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William Waack: pesquisa falha em livro!!!

“Um operoso grupo de oficiais americanos” a quem a FEB (Força Expedicionária Brasileira) deveu sua adaptação à guerra moderna.

Foi assim que o general Mascarenhas de Morais (1883-1968) se referiu em seu livro de 1947 ao destacamento americano cujos relatórios compõem grande parte de “As Duas Faces da Glória”, livro do jornalista William Waack publicado em 1985 e reeditado agora, com introdução e imagens novas.

Mascarenhas sempre admitiu o mau treinamento e os problemas organizacionais da expedição. Ainda sugeriu que as primeiras impressões americanas sobre a FEB foram pouco lisonjeiras. Apesar disso, William Waack rotulou de “ufanistas” as narrativas brasileiras.

Soldado da FEB durante a 2ª Guerra Mundial, em Toscana, na Itália
Soldado da FEB durante a 2ª Guerra Mundial, em Toscana, na Itália

Waack propôs desmentir essas narrativas, mas, desde o início, nada havia para ser corrigido: os ex-combatentes da FEB tinham plena noção do abismo que os separava do Exército americano.

Ignorando a literatura da FEB, Waack presumiu que havia esqueletos no armário da história da campanha, com a premissa anacrônica de revelar aquilo que os próprios veteranos já admitiam.

“As Duas Faces da Glória” é o filho de uma falsa polêmica e seria injusto afirmar que o livro foi superado pelas pesquisas mais recentes, pois já era inconsistente nos anos 80.

A documentação do destacamento americano é utilizada precariamente: sua função não era outra senão a de identificar falhas e preparar a FEB para a ação. A comparação com outros processos de integração de tropa estrangeira a Exércitos maiores revelaria os mesmos dilemas.

Waack desconsiderou as dificuldades inerentes às operações multinacionais e, se tivesse estudado a cooperação entre os neófitos americanos e os britânicos no norte da África, encontraria idêntico teor nos relatórios.

Combatentes experimentados não demonstram boa vontade com aqueles que acabam de chegar ao campo de batalha. Os problemas mais sérios do livro começam no trato das fontes alemãs.

Waack desconhece questões elementares envolvendo a história da Wehrmacht (Forças Armadas nazistas). No pós-guerra, os alemães minimizaram sua incompetência estratégica, jamais compensada pelas inovações táticas.

O autor acusa historiadores de não se interessarem pela principal grande unidade que enfrentou os brasileiros, mas não aprecia que tal divisão era parte de uma força armada e o produto dela.

A tropa que fazia frente à FEB era típica do Exército alemão composto por uma minoria de elementos modernos e uma maioria com logística tracionada por cavalos nada devendo ao tempo de Napoleão.

As Duas Faces da Glória
Willian Waack
livro

Supostamente “idosos” na versão de Waack, os defensores de Monte Castello (Itália) eram a regra na Wehrmacht: reservistas bem treinados capazes de alta letalidade.

Outra falha de Waack: ele acatou os depoimentos de veteranos alemães, comprovadamente eivados por eufemismos sobre seu compromisso com o nazismo.

A falta de familiaridade com a historiografia, a deficiência analítica no trato com a documentação e com as doutrinas de combate que balizam o livro ressaltam uma condição da história militar: o campo continua reservado aos especialistas.